18 de set. de 2007

Descobrimento

Um dia eu tinha mais. E fui perdendo. Perdi aquela alegria incontrolável de acordar mais cedo para ir passear. De contar o tic-tac do relógio nas madrugadas sem sono antecedentes aos dias de natal que demoravam a clarear. De tremer com o nervosismo de uma prova um pouco mais difícil. De chorar ao pensar que sim, que ainda havia uma esperança. De repetir tudo vai ficar bem tudo vai ficar bem tudo vai ficar bem sabendo que ninguém além de mim mesma podia ouvir. De sorrir nas noites de notas agudas e vozes roucas compartilhadas por velhinhos charmosos de leques nas mãos. De subir em montes sujos de soja com pombas gordas que voavam cinzas por entre os armazéns. De pschiii, não se mexe, ele tá vindo, agora, corre!, yehh, me bati!. De coisas, assim. Um dia eu tinha mais. E fui perdendo. Só que ao mesmo tempo que perdia fui, também, crescendo. E hoje amanheci. Clareei até o ponto fosco da lâmpada não queimada. E ganhei. Ganhei o mundo, corri para ele com os braços abertos em forma de cruz. É. Por isso - foi por tudo isso que te conheci.

Nenhum comentário: