31 de jan. de 2010

quando você não vem

então eu me arrumei toda e era pra ver você. Trajei meu vestido azul com cinta bonita em volta da cintura, minha sapatilha preta de camurça e meu laço de fita no cabelo. Mas você não apareceu. E eu fiquei lá espiando os transeuntes no bar. Todos com suas cervejas e gargalhadas, com suas falas altas de quem tinha o que dizer e pra quem dizer. Sorte que levei um livro, veja só. Eu, o bar, uma dose de vodka e Cortázar. Nada mais justo do que substituir o homem brasileiro mais gracioso pelo argentino do mesmo porte. Certamente, se você lesse isso, iria sorrir (e ficar lisonjeado) com a comparação. Só que a noite foi passando e foi me batendo um desespero, uma agonia que crescia e crescia e doía cada vez mais e havia as pessoas ébrias do bar e o Cortázar dizendo que eu devia beijar sua boca e a vodka que sempre enchia o copo e então o chão mais próximo e você que não vinha e a noite mais longa. Por que você fazia isso comigo? Por que eu fazia isso comigo? Por que a roda girava e eu não me decidia por um lugar, por alguém, por alguma coisa? A estória era sempre a mesma: amizade sincera mais sexo, profissão indefinida, dinheiro faltando, vida fodida. Cinco da manhã. "Com licença, estamos fechando o bar." Peguei minha bolsa, acendi um cigarro e -caminhando- fui embora.

Um comentário:

Fischer disse...

Não sei o que faço com a noção de vida desarranjada: se é de invejar pela liberdade e imprevisibilidade (e a sujeira de cores e cheiros) ou de lamentar pela falta de objetividade (e por ser como é).