15 de mai. de 2010

Eu que não sou você

Vê? Vê como sou pouca, como me desfaço em migalhas de pão, aquelas mesmo ignoradas até pelos passarinhos? Vê como não sei alegrar ao outro, a fazê-lo sorrir e cantar uma canção, a chorar de emoção com meus gestos? Vê como meu abraço já perdeu a cor, como é fácil com ele se acostumar - e quando se acostuma se deixa de notar com aquela alegria de antes, com aquela fé de mágica nova, com aquele estremecimento de gozo difícil de alcançar. Vê como o meu divertimento é pequeno, como meu prazer é ralo, como sou fosca e superficial que nem água parada de lago quente? Eu sou é Macabéa, e tu vais me deixar pela primeira bunda alegre que bailar pelo salão ao som de qualquer música saltitante. Eu não me contento com pouco, mas não percebo que o mais é muito para mim. Eu sou sozinha. Eu me perco dentro da solidão do mundo de mim. Escrito numa quarta-feira, alguns anos atrás.

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