27 de jan. de 2011

Ménage à trois

Meu arrependimento maior é nunca ter feito um ménage à trois antes de gostar o suficiente de alguém e achar essa idéia no mínimo perigosa. Meus amores nunca foram importantes o tanto pra eu deixar de fazer algo. Eu sempre exigi que eles deixassem de fazer. Nunca deu certo, incrivelmente previsível. Meu carinho exageradamente palpável nunca foi suficiente pra alguém a ponto da minha rabugisse ser suportável. Meus bom-dias nunca são de manhã e minha cara não lavada significa mau humor. Se você acertar uma vez: pode ter certeza que vou lembrar de no mínimo duas em que você errou. Não sou querida e minha arrogância dói mais em mim do que meus pais acreditam quando dizem, depois de um mês e meio sem me ver, "não estrague nosso dia". Eu estrago. Eu não quero. Eu conserto quando parece impossível. Todo mundo esquece. Menos eu. Cada pessoa que eu beijei cumpriu da maneira mais incrível o papel de me detestar. Um dom memorável. Eu nunca fiz nada por mal, mas isso é daquelas coisas que não tem mínima importância. No mundo dos perdões dificilmente o motivo do erro tem importância. Menos ainda a intenção. E no fim o que fica de cada pessoa que eu desejei é uma indiferença monótona e, lá no fundo, uma nostalgia do que poderia ter sido e não foi. Porque eu não deixei. Hoje eu deixo. Pra entrar de cabeça em mim quando quiser. Hoje eu sou.

Um comentário:

Abutre disse...

O arrependimento...
Não me arrependo de cada carcaça que comi.
Mas hoje só como carne viva.
No fluxo do tempo o passado e o futuro são ilusão.
Somente o presente é real.