23 de fev. de 2011

Abri os olhos e.

Abri os olhos, você não estava, adormeci de novo. Foi assim por uma semana ou um mês. Não sei. Todos os dias igualmente amargos. E então, de bruços na cama, eu imaginava cada coisa que você podia estar fazendo. Lembrava de cada sorriso sem os dentes, de cada grito sem desculpas, de cada taça de vinho sem suicídio, de cada mordida de gato sem sangue. Era mágico e eu não sabia. Você sabia, sussurrava em cada fim de tarde, e eu nunca me permiti acreditar. Confiar em você e em suas palavras doces era como declarar derrota. Orgulho demais pra engolir por outra pessoa. Mesmo por você. O moreno negro das noites de embriaguez, o amigo das lamentações amorosas, o mais charmoso entre todos sempre, o ciclista de temporadas e, enfim, o cara com quem eu ia me casar e realizar o sonho de princesa de toda mulher do século 20. Nem por você eu mudaria. Você não entendeu meus porquês confusos e partiu. Eu também não fui capaz de entender. Mas precisava ficar. E assim eu passava o resto de cada segundo dos meus dias: despertando e não vendo você, almoçando sozinha e derramando lembranças agora miseráveis por todos os cantos. Eu sentia falta.

Um comentário:

Sapo disse...

Poesia.
É tocante.
A garganta aperta.
Espiral, de fato: de agonia, desespero e solidão.

Os animais aprovam.