2 de mai. de 2011
depois dos vinte anos não se escrevem mais cartas de amor
Não cometa o erro considerável de, aos vinte anos, escrever uma carta de amor. com oito anos, plena infância, você conhece aquela menininha linda de rabo de cavalo e beiços maiores que a cara e tem certeza: a ama. Como poderia não amar? você não quer tocá-la, não faz sequer questão de conversar com ela. Apenas deseja um oi a cada três dias e poder sentar no mesmo banquinho no recreio. Pra terminar: manda um bilhete escrito "te amo" dentro de um coração. Pronto, sua primeira carta de amor. Então passam-se alguns anos e você nega o amor. Nega, nega, nega. "E as namoradinhas, paulo?" "que namoradinhas o quê" e sai vermelho. Você, menino delicado, só não pode ser delicado perto dos outros. Porque no quarto, à noite, na frente do computador, você chora ouvindo smiths, bate uma punheta e escreve o poema mais brega já criado. Porque a Claudinha é linda, você ama a Claudinha, a Claudinha tem olhos de jabuticaba, tem pele de pêssego, tem cheiro de hortelã e não é fresca, a Claudinha. Pena que a Claudinha não dá bola pra você (na verdade ela dá, você que não sabe). E então um dia você manda um continho seu pela internet pra Claudinha. Ela ri de você, mostra pras amigas, o colégio fica sabendo e você vira o menino-menina. Decide nunca mais olhar pras mulheres. Só que seus hormônios não querem saber disso. Eles precisam mostrar ao mundo (e a você) pra que existem (e como existem) e então você passa a querer comer consideravelmente muitas meninas do cursinho pré vestibular. Bundas e peitos passam a ter seu valor estético totalmente apreciado. Você esquece as palavras de amor e aprende a fazer sexo. Porque o segundo, com certeza, só se segue do primeiro em raríssimas ocasiões. O problema é que chega um dia em que você não se importa mais tanto com as mulheres e passa a se importar com aquela mulher. A sua mulher. Você só tem olhos pra ela. Porque ela tem bom gosto pra se vestir, porque ela sabe o que é bom musicalmente, porque -olha que criatura linda- ela sorri mais com o canto direito da boca. Você fica idiota e volta a escrever bobagens de amor. Você escreve uma carta pra ela. Ela responde. Vocês se encontram pra conversar. Vocês ficam juntos. Vocês não se casam. Aliás, vocês terminam meses depois. Ou vocês mantém o relacionamento por anos. Só que daí palavras de amor não são mais necessárias. Um 'te amo' ao deitar na cama pra dormir (e só isso) basta. Duas vezes por semana, porque você nem sempre lembra que é preciso dizer isso. Nem ela. E você nunca mais comete o erro de escrever cartas de amor. Porque você já tem mais de vinte anos. E com vinte anos cartas de amor não existem mais.
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Um comentário:
Eu ainda escrevo cartas de amor :~
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