É tudo questão de escolhas, sempre disseram. E eu sempre acreditei. Desdenhava da sorte, porque quem tem cada segundo de sua vida nas mãos não precisa de nenhum tipo de força sobrenatural. Mas então eu resolvi sair da casa dos meus pais e elaborar todo um plano fantástico pro meu futuro. Eu seria bem sucedida profissionalmente, nunca precisaria de ninguém, dançaria bêbada todas as sextas feiras e compraria minhoquinhas ácidas pra comer todos os dias antes de dormir. Não foi bem assim. Não é bem assim. A primeira coisa que eu aprendi na primeira semana sozinha é que ninguém quer ficar sozinho. Você pode aguentar almoçar seis vezes por semana: você e a televisão. Mas não sete. Nunca sete. Talvez por isso tantas pessoas tenham cachorros e gatos. Porque carinho, de qualquer tipo e de qualquer lugar, ao menos uma vez por semana, é bem vindo. A segunda coisa que nunca vou esquecer é como 'profissão' é apenas uma pequena parte da vida. Alguns acreditam ser a mais importante, mas esses, eu tenho certeza, não são felizes. E ser feliz não é uma coisa mágica, que precisa de muito esforço. Ser feliz é comer bem, passear, conhecer coisas novas, tomar umas doses de martini com suco de uva. E tudo isso com com quem a gente gosta. Não é difícil, mas nem todos conseguem. A terceira coisa, não menos incrível, que me dei conta desde que deixei de ser apenas mais uma da casa dos Wagner, pra construir minha própria casa: é fácil ser feliz, mas a vida não é fácil. É preciso muita ginga, é preciso gritar muito e espernear, é preciso sorrir muito e desdenhar. É fácil ser feliz, os passos são simples. Mas é difícil, dolorosamente difícil, saber a hora certa, ajeitar o caminho, encontrar os melhores companheiros de estrada para dar esses passos. Eu ainda acredito na importância das escolhas, mas eu não creio mais piamente que elas sejam conscientes o tempo todo, todo o sempre. Quando eu escolhi começar uma vida sozinha, eu não escolhi tomar apenas água todos os dias, nem o cano furado na cozinha. Mas cada escolha não vem sozinha. Uma escolha, um punhado de (in)conseqüências.
No one's gonna fool around with us.
2 comentários:
Não é difícil, mas eu não tô conseguindo.
Bom texto, Thai.
Sabe aquele "nem todos conseguem" ali? Sou eu, em quase todas as coisas da minha vida. Mas eu sei que dá pra ser alegre. E eu sigo tentando.
(:
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