18 de mar. de 2008

O Caso da Menina da Terra do Nunca.

Eu estava molhada e estirada no chão da cozinha, totalmente embriagada de solidão. Pouco me importaria se o telefone tocasse –oh, não, isso não teria o mínimo perigo de vir a se consolidar; Ninguém me telefonava há meses – ou se a probabilidade de pegar um resfriado era alta. Simplesmente não fazia diferença alguma. Meu atestado de solidão não era apenas existencial. Não; Era crônico e totalmente real; Causado por falta de pele, de abraços, de um ele ou um ela que –boçalmente- servisse para me dizer uma palavras doces. Apenas algumas... Eu já não queria mais me encharcar de “afeto”. Era perigoso, e de um perigo fatal, o qual eu não estava mais destinada a suportar. Mas os abraços, a pele e as palavras doces não viriam, já sabia. Não me pergunte por que, nem como eu poderia saber. Simplesmente eu sabia e isto basta. Os únicos gestos verdadeiros que eu estava capacitada de produzir eram os soluços; Dispersos, gélidos, secos. Como as lágrimas não vinham -e fazia tempo, parecia secular- eu me limitava a soluçar e tremer no chão frio e, agora, molhado da cozinha. Fiquei lá minutos, horas, talvez dias. Até que a noção de tempo me libertou de sua prisão de querer ser exata, e deixei de pensar. A dor física passara, só restava a outra, e –talvez- mais cruel: a do sentir. E essa, vagamente, ainda palpitava. Em claros momentos, nos de consciência que me restavam –e cada vez menores e mais dispersos- eu conseguia gritar o teu nome –daquele que fora o único a quem eu realmente me revelara. Depois adormecia e acordava ainda sonhando. Certo dia, o qual eu nem sei se existiu, me vi passeando de mãos dadas com um alguém sem rosto por um gramado brilhantemente verde, sob um sol de primavera. Esse alguém creio teres sido tu, mas o rosto era borrado, e as formas descompassadas. Sentamos embaixo de uma figueira enorme, com folhas repletas de joaninhas vermelhas. Tu olhou para mim com teu rosto sem olhos e disse, sussurrando,: eu vim. Depois disso nunca mais coisa alguma aconteceu.

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