5 de abr. de 2008

A partida de um pouco de mim.

O buraco em mim fechou-se e eu não conseguia nem mais espiar pela fechadura. É que quando você foi, digo, quando você partiu, bem, quando você partiu eu parti também, eu me parti, me pari, me desfiz. Acostumada do jeito que estava com tuas doçuras nas manhãs cheirando a leite morno, ao teu cuidar de mim que era tão intenso e preciso, quando tive que fazer as coisas mais simples -como estender a colcha sobre a cama no amanhecer ou limpar os restos de comida do fim da janta-, já não podia mais; Não sabia como, não havia como. E se não ajo mais fortemente, se permaneço aqui parada, hipnotizada, olhando para esse pedaço de madeira velha é porque penso que você ainda pode abrir essa porta, tirar os tênis sujos de poeira cinza e dizer qualquer coisa banal assim como "voltei". Volta, eu peço, volta. A casa está vazia, está doendo de tão vazia. Volta. Me devolve esse pedaço de coisas minhas que você levou junto, te devolve. Te devolve sem essa de objeções, de motivos infímos, de "preciso estudar, preciso terminar o trabalho, preciso aprender a...". Eu sei, eu sei, mas volta e me estuda, me termina, me aprende. Volta que eu faço o mesmo, faço aplicadamente, faço sem deixar para depois, esse depois tão costumeiro que a gente se acostuma a nunca concretar. Olha, larga essa de querer mudar tudo e mude apenas o que pode, esquece essa de ser racional sempre, esquece essa viagem, perdoa essa estrada longa, eu abomino essa tua falta de vontade de tentar, de tentar mais uma vez, esquece essa de destino, perdoa, volta. E me talha a teu jeito, que eu vou deixar, e vou deixar justamente porque sinto que você me conhece tão bem que não me talharia de outra forma da qual não sou. Me reinventa, me redescobre, te redescobre, te refaz e volta. Porque o Amor, ah o Amor, ele não está nem aí pra minha solidão, ele não quer saber, ele ignora o aborrecimento que é viver sem ter você pra conversar, pra rir nas madrugadas de sono atrasado, para o gostar que é te ter ao meu lado. Então volta.

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