31 de jul. de 2009

O inusitado

Sentiu pena. E não era de si. Eis aqui o fato no qual mais achava graça, já que nesses últimos tempos o que mais lamentava era a própria existência -mesmo que sem tanta necessidade, mesmo que por ser cruel e quase masoquista. Olhou pro garoto sentado a sua frente e de um ímpeto teve que se conter pra não acariciar aqueles cabelos sedosos e levemente bagunçados de acordar tarde e dormir muito e agitado. De ter sonhos impossíveis. Cambaleou meio disfarçando até um lugar mais solitário, sentou na cadeira vermelha cobre e fitou a cena. Para quê - se perguntava. Pra que sofrer tanto, se machucar tanto, machucar os outros, cobrar, maltratar, fazer doer, corroer, despedaçar o que nunca nem ao menos chegou a existir a não ser no mais vil e grosseiro dos toques -do desejo, do tesão? Sorriu, baixou a cabeça, sorriu. Levantou, dançou, girou, rodopiou, solta, sozinha, jogada. Era totalmente livre naquele momento. Sentia um êxtase gigante a invadindo que só podia crescer, nunca diminuir. E cresceu. Cresceu tanto, tanto, que acabou a afogando numa explosão de orgamos inusitados. Foi feliz.

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