16 de out. de 2007

O Mágico e a Cartola

Eu estou aqui para dizer uma coisa. Se você me deixar eu posso acabar com tudo isso bem rápido e você poderá voltar para o seu mundo parco de fantasias. É uma coisa bem simples que eu estou a algum tempo tentando dizer, desde aquele dia no verão azul que nos encontramos perto da biblioteca amadora da cidade encantada. Se você não tossir mais, nem espirrar, nem cortar tudo com palavras duras e gestos contidos eu posso dizer e as coisas voltarão ao normal, ao desânimo dos dias antes. Sossegue um pouco essa sua indiferença fingida e me passe o copo com água. Isso, água. Parei com o refrigerante. Olha, escuta. Eu pedi para me escutar. Só um pouco, não vou tomar tanto assim do seu tempo precioso. Você lembra daquele dia? Como assim: de qual? Do dia azul de verão perto dos livros. Viu como você não presta mais atenção no que falo? Não é implicância minha, é saudade de atenção. Naquele dia eu pensei que queria para sempre uns momentos com você. Lembra que nós pensávamos em casar, e eu sorria dizendo que sim, que claro, que um dia nós vamos, que nós seremos. E nós fomos. Fomos perdendo esse brilho de ver o mundo, essa esperança nas coisas mágicas, nos livros coloridos, nas imagens recortadas. Você lembra como gostávamos de sorrir, como tínhamos tempo para sorrir? O que aconteceu com nós, querido? Por que apodrecemos assim? O que? Você acha que eu não estou tentando? Você acha que está sendo fácil e agradável e interessante ver que as coisas mudaram e que eu mudei e que você mudou? Não, eu não quero um abraço agora. Eu não preciso mais disso. Apenas olhe para mim e veja no que me transformei. Você pode segurar a minha mão se quiser. Segure essas suas lágrimas também.

3 comentários:

Stephanie disse...

às vezes é complicado se dar conta de que mudamos e deixar isso bem claro para o outro - de forma que ele entenda a tranasformação e a respeite, sem insistir em sentir saudades e querer tudo permaneça como antes.

bonito seu texto.
beijo

Fischer disse...

Você já disse que as pessoas não mudavam. Como concilias isso? Mudou de idéia? (Isso não é uma repressão. De forma alguma.)

(Eu havia esquecido que tinhas mais blogs! [Não que por isso deva haver divulgaçãoo. Aliás, pensando bem, tu mesma que deves se responsabilizar em não tirar conclusões apressadas.])
(Assim, tu não concluirás que escrevi isso porque concluis de forma apressada e errada.)
Espero que essas palavras tenham sido proveitosas ("úteis" pode ter um sentido muito prático - "qual a utilidade de uma flor?").

Thai disse...

Eu não concilio. Eu apenas sinto, e isso por inércia.

As pessoas não mudam. (?)